Os riscos de usar remédio por conta própria

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por Uilton Conceição
itousc@yahoo.com.br

É cada vez mais comum encontrar medicamentos armazenados em casa. Os analgésicos e antitérmicos são os principais alvos da automedicação em casos de emergência, pois prometem aliviar de imediato o mal-estar. O que muitas pessoas desconhecem é que essas drogas quando são tomadas por conta própria, sem orientação dada pelos médicos e supervisão de farmacêuticos, podem provocar sérios riscos à saúde. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abfarma), cerca de 20 mil pessoas morrem no país vítimas da automedicação.

Para Mônica de Jesus Oliveira, 24 anos, moradora de Cajazeiras e auxiliar administrativa do posto de saúde de Novo Marotinho, a experiência de ter se automedicado quase lhe custou a vida. Ela passou mal depois de tomar sulfametazol e trimetropina, substâncias encontradas no Bactrim, um antibiótico, e precisou ir a uma emergência médica. Ela relata que já tomava o remédio desde pequena: “Tomei o sulfa. Como sempre tomei, desde pequena, não percebi que tive reação. Voltei a tomar de novo, aí tive reação”, explicou. Ela conta que placas vermelhas, olho roxo e um tipo de bolha de sangue nas mãos se formaram pelo corpo: “Fui para um posto de saúde, o médico me avisou que a partir daquele dia eu não poderia mais tomar Bactrim e mais nenhum sem receita e hoje não faço mais isso”.

A dificuldade para ter acesso a uma avaliação médica e falta de farmacêuticos nas farmácias são outros fatores contribuem para que as pessoas tomem a iniciativa de tomar remédio por conta própria. Dona Maria José, de 63 anos, vendedora de doces e salgados, moradora do Novo Marotinho afirma ter tomado medicamento sem prescrição médica e alega não sentir nenhuma reação contrária ao efeito desejado. Ela explica de que forma conseguiu a droga: “Foi o rapaz que me indicou o nome desse remédio e me dei bem”. Mas nem todos têm a mesma sorte. Segundo Dona Maria, uma pessoa já morreu no bairro vítima da automedicação: “Ele estava se sentindo mal, disse que estava com dengue, tomou o remédio e morreu”.

Segundo Simone de Oliveira Cidreira, 29 anos, vacinadora canina do posto de saúde do Novo Marotinho, a dificuldade em conseguir atendimento médico facilita a automedicação. “Meu marido estava com o dente inflamado. Hoje, você não acha mais em postos atendimento para dentista. Eu peguei e disse: ‘Toma um antiflamatório aí para ver se diminui a dor’”, concluiu.  

Riscos
No Brasil, a prática de ingerir remédios por conta própria é estimulada pela facilidade de adquirir os remédios, que são vendidos livremente em farmácias e outros estabelecimentos. “A gente tem uma facilidade muito grande de ter esses medicamentos hoje em dia. Em farmácia você encontra uma disponibilidade muito grande”, comentou o infectologista Gustavo Mustafa, gerente de risco do Projeto Hospitais Sentinela, da ANVISA, e toxicologista do Centro de Informação Antiveneno (CIAVE), localizado no Hospital Roberto Santos. “A forma que se vê farmácia aqui no Brasil é muito diferente de outros lugares. Aqui é vista quase como um supermercado onde as pessoas têm os produtos lá disponíveis e qualquer pessoa pode pegar e escolher ali sem orientação”, acrescentou Mustafa.

Em caso de Intoxicação, o Centro de informação Antiveneno (CIAVE) disponibiliza uma central de atendimento telefônica 24h através do número 0800 2844343 que está à disposição da população.  

 Mustafa reforça que a propaganda dos laboratórios acaba sendo um canal de vício para pessoas que se medicam por conta própria: “Essa propaganda vende produtos como se fossem milagrosos quando na verdade esses produtos têm uma certa limitação e a questão não tem nenhuma restrição então a pessoa usa e leva para suas casas e usa como quer”,justificou Mustafa.  

(novembro de 2007)

11 comentários

  1. Uilton, sua reportagem dita a relidade encontrada no Brasil. Nós que trabalhamos num hospital e temos contato direto com medicamentos, sempre encontramos alguém que nos pergunta se conhecemos algum medicamento especifico para melhorar algum sintoma que estejam sentindo e principalmente se temos como conseguir o mesmo. Por isso, venho destacar que a sua reportagem é de extrema importancia para toda a população e desejo que seja divulgada no jornal das Faculdades Jorge Amado, para que de certa forma atinga uma parte da população.
    Parabéns!
    Rafaeli

  2. Rafaeli,

    Olá. Agradecemos muito os seus comentários e elogios. Também torcemos para que mais e mais pessoas percebam os riscos da auto-medicação.

    Deisy,

    Olá. De fato, remédios podem ser bem perigosos…

    Abç

    Redação

  3. eu particulrmente acho que as pessoas deveriam ir ao medico antes de se automedicar. as vezes, mesmo sendo dificil accho que todos os remadios deveriam só serem vendidos com prescrição medica, e que as pessoas não deveriam ter acesso aos remedios sem apresentar uma receita.

  4. Uil,
    Parabéns pela reportagem. Infelizmente, da época que você escreveu o artigo até hoje, pouca coisa mudou. A população continua consumindo medicamentos e se expondo de uma forma desproporcional, a indústria farmacêutica, impondo o ritmo do consumo e os médicos ainda passivos na limitação da circulação e uso racional destes. Um abraço, Gustavo Mustafa Tanajura.

  5. Muito interessante sua reportagem , gostei muito das informações que estão postadas em seu site !!! obg

  6. Nossa acho absurdo as pessoas comprarem remédios sem descrição medica e concordo com tudo com esse post, minha família é tudo assim, as pessoas não sabem os riscos que correm tomando um remedo ou até de dor que tem cara que num faz mal, + não confio em nenhum remédio, dizem também que entope a veia e tals…eu tomava quando sentia dor de cabeça fortes, sempre que ficava com dor tomava, graças a deus que hoje sou diferente, não lembro como foi que mudei, + sei que faz anos que não tomo, posso sentir a dor que for mais não tomo, eu vou no medico mais nada, eu não duvido dos médicos pq eles não estudaram a toa e eles tem muito mais conhecimento desse assunto e sabe muito bem o que é bom pra nós e o que pode ser digerido.

    • DEVE SER FACIL AÍ PRA VCS CONSULTAR UM MEDICO, AQUI ONDE EU MORO DEMORA UM MES OU MAIS, NAO DÁ PRA ESPERAR…

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